Quantos milímetros choveu no Rio Grande do Sul?

Municípios do Rio Grande do Sul registraram mais de 800 milímetros de água acumulada nos últimos dias, segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O valor é quase oito vezes a normal climatológica (1991–2020) esperada para todo o mês de maio, de 112,8 mm, para a região.

A chuva não foi distribuída de forma homogênea, resultando na maior tragédia climática do Estado. Conforme o boletim mais recente da Defesa Civil, 90 pessoas morreram e outras 131 seguem desaparecidas. As tempestades ainda derrubaram pontes e destruíram ruas, casas e estabelecimentos comerciais de 397 cidades diferentes.

Willians Bini, meteorologista e Chief Climate Officer (COO) da FieldPRO, explica que o maior impacto em relação às chuvas intensas foi a questão hidrológica. Sem tempo para a drenagem da água, os rios inundaram as cidades gaúchas.

“É um volume extremamente elevado. O que temos de comparação é o evento do ano passado, causado por ciclones que passaram pelo Rio Grande do Sul. Ambos trouxeram impactos na hidrologia do estado e aconteceram sob a influência do El Niño”, afirma.

Para Estael Sias, meteorologista-sócia na MetSul, outro fator preponderante para a tragédia é o relevo, uma vez que as regiões mais atingidas ficam em áreas de altitude.

“A água foi descendo para cotas mais baixas com velocidade e formando uma correnteza, onde destruiu o que encontrava pelo caminho”, disse à Globo Rural. Além do impacto hidrológico, o estado registrou também impacto geológico, com quedas de barreiras, pessoas soterradas e afogadas.

Quantos mm choveu no Rio Grande do Sul?

Porto Alegre, capital do Estado, registrou 327,4 milímetros de chuva entre 28 de abril e 5 de maio. O maior volume acumulado foi na estação da PCH Rastro de Auto Barramento, hidrelétrica entre os municípios de Putinga e São José do Herval, com 866,6 milímetros. Veja a lista completa

• PCH Rastro de Auto Barramento, nos municípios de Putinga e São José do Herval: 866,6 milímetros
• Muçum: 864,8 milímetros.
• PCH Linha Emília Jusante, no município de Dois Lajeados: 803,6 milímetros;
• PCH Cotiporã Jusante, barragem entre Cotiporã e Bento Gonçalves: 800,2 milímetros;
• UHE Itaúba Barramento, usina entre Pinhal Grande e Estrela Velha: 788,4 milímetros;
• UHE Dona Francisca Arroio Carijinho, no município de Nova Palma: 738,2 milímetros;
• Linha José Júlio, no município de Santa Tereza: 725,4 milímetros;
• UHE 14 de Julho Jusante, barragem entre Cotiporã e Bento Gonçalves: 718,8 milímetros;
• Encantado: 708 milímetros.

Os dados são da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Instituto Nacional de Metereologia.

A enchente ocorreu por uma combinação de três fatores: El Niño, umidade da Amazônia e onda de calor no Sudeste e Centro-Oeste. Apesar do fenômeno ter enfraquecido para dar lugar à La Niña no segundo semestre de 2024, o El Niño ainda influencia o clima no Hemisfério Sul e contribuiu com a quantidade excessiva de chuvas.

Junto dele, a quarta onda de calor no ano bloqueou o avanço das frentes frias que surgem no Sul e no leste da Argentina. O cenário deixou Rio Grande do Sul e Santa Catarina suscetíveis às áreas de instabilidade e responsáveis pela precipitação.

Para completar, a umidade vinda da Amazônia ficou canalizada em um corredor direto ao Sul do país.

A chuva estava prevista?

Em razão da combinação citada acima, a previsão do tempo já indicava o risco para o Rio Grande do Sul, mas não na intensidade registrada, afirma a especialista da MetSul. “Desde o dia 25 de abril, alertamos para um evento extraordinário. Inicialmente, a gente imaginava algo próximo de 1941 — ano, até então, da maior tragédia —, mas não pensamos que fosse pior”, garante.

Conforme ela, os prejuízos não foram superiores apenas na questão da intensidade da chuva, mas no vetor social, considerando que a população do Rio Grande do Sul aumentou consideravelmente em relação à década de 40.

“O ano de referência que sempre usamos era 1941, mas agora vai passar a ser 2024. Será a pior em termos de desabrigados, de mortos, de números de cidades impactadas… são múltiplas as consequências”, finaliza.

Fonte: Globo Rural