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Ciência & Tecnologia

Pesquisadores trabalham na criação de ‘bicho-da-seda do Paraná’

Março 24, 20245 Mins Read

Universidades buscam aprimorar mercado da seda, com foco em áreas como medicina e cosmética

Um “bicho-da-seda do Paraná” deve estar chegando nos próximos anos ao mercado. O exemplar paranaense do inseto está sendo desenvolvido nos laboratórios da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O principal desafio para os pesquisadores envolvidos é manter a qualidade do fio de seda brasileiro, considerado o melhor do mundo.

As informações são da professora Cristianne Cordeiro Nascimento, coordenadora do Projeto Seda Brasil – O fio que transforma, realizado na UEL com financiamento do Fundo Paraná, da Secretaria Estadual da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “Na seda, somos os melhores do mundo. O fio produzido no Brasil é superior em comprimento, peso, resistência e brancura”, explica a professora.

Ela comenta que o projeto desenvolvido na UEL visa aprimorar o mercado da seda no Estado – que concentra mais de 85% da produção nacional de casulos de bichos-da-seda – e trazer soluções para o manejo da cultura nas propriedades. A criação do “bicho do Paraná” está sendo realizada por meio dos setores que analisam o melhoramento genético do bicho-da-seda.

“Nos próximos dois anos devemos chegar a um resultado nessa área. Já temos o sequenciamento de RNA [ácido nucleico da espécie] e precisamos fazer uma análise mais profunda para identificar qual sequenciamento genético se adapta melhor ao Estado”, explica.

Não é à toa que a produção se concentra no Paraná. O clima das principais regiões produtoras do Estado – Norte, Noroeste, Centro e Centro Oeste – é considerado ideal para a criação do bicho-da-seda, que inclui o plantio de amoreiras, cujas folhas são o único alimento da larva.

Em outra frente de pesquisa na UEL, em fase adiantada, está o desenvolvimento de uma anestesia para aplicação no bicho-da-seda na fase final do processo produtivo, em que o ciclo da lagarta é interrompido, já com patente autorizada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Segundo Cristianne, no mercado exterior esse procedimento está relacionado ao bem-estar animal. O processo é baseado na inalação de óleo de cravo, garantindo que o bicho esteja completamente anestesiado e não sofra.

Casulos de bicho-da-seda — Foto: Sandra Manieri / Arquivo pessoal

Outros dois projetos, com andamento avançado, e com utilização de biotecnologia aplicada, são voltados às áreas de medicina e cosmética, tendo em vista que o fio da seda é composto por duas proteínas: sericina e fibroína. Estão em desenvolvimento um biofilme com alto teor de regeneração e cicatrização, para pacientes com queimaduras, e um sérum rejuvenescedor.

“Já há vários produtos de fora do Brasil com esse ativo, mas nossa fórmula será a primeira com base no bicho-da-seda brasileiro, com o poder de regeneração que tem a nossa seda”, acrescenta Cristianne.

Os pesquisadores da instituição estão atuando ainda no sequenciamento das doenças existentes nas criações do Paraná e em propostas para melhorar o ambiente destinado à criação do bicho-da-seda e para o enfrentamento dos desafios do clima. No total, em torno de 50 pessoas estão envolvidas no projeto, sendo 15 pesquisadores em média.

O projeto também pretende lançar o Quintas da Seda, que consistirá num microcosmo com toda a cadeia da produção em um único espaço, em Londrina, assim como entrar no metaverso, com visitas e treinamentos virtuais. “Por enquanto, vendemos a commodity. O foco do projeto é atuar em várias frentes e agregar valor à produção no Estado”, completa.

Produção da seda

O processo produtivo da seda natural no Brasil começa com a produção dos ovos do bicho-da-seda e segue no campo, com o cultivo das amoreiras, a criação das lagartas e a produção de casulos verdes. Atualmente, a Fiação Bratac – única empresa fabricante de fios de seda em escala industrial no Ocidente -, com matriz em Londrina (PR), produz as larvas e, no fim do processo, recolhe os casulos para a fabricação dos fios de seda.

As características do fio de seda brasileiro atraem principalmente as marcas da moda de alto luxo da Europa. Além do Paraná, também há produtores em São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Larvas de bicho-da-seda — Foto: UEM / Divulgação

Projeto Seda

Já na região Noroeste do Paraná, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) integrou o Projeto Seda, mantido com recursos da União Europeia. O projeto aconteceu entre 2016 e 2023 e reuniu grupos de pesquisas do Brasil, Argentina, Colômbia, México, Equador e Cuba, inseridos no Programa de Cooperação Triangular (Adelante). O projeto teve o objetivo de melhorar a capacidade técnica e produtiva da sericicultura entre os grupos da América Latina e Caribe.

O grupo da universidade foi constituído por professores que trabalham na área de genética molecular; melhoramento da produtividade sericícola; química, biofísica e bioquímica. Segundo a professora Maria Aparecida Fernandez, coordenadora do projeto na UEM, a iniciativa possibilitou a análise de expressão de genes visando prevenir doenças que afetam a criação do bicho-da-seda, assim como a melhora da produtividade de casulos e apoio aos sericicultores do Paraná.

“Os outros países produtores não têm a estrutura que temos no Brasil, com a Fiação Bratac produzindo lagartas híbridas, entregando ao produtor e depois comprando os casulos”, comenta Maria Aparecida. O projeto, de acordo com ela, possibilitou o envio de recursos europeus para iniciativas de entidades do setor e de produtores brasileiros, visando a compra de equipamentos, formação de recursos humanos e experimentações mais refinadas.

A professora acrescenta que, mesmo com o encerramento do projeto, a UEM irá continuar com pesquisas voltadas à melhoria da sericicultura, assim como pesquisadores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), que também participaram da iniciativa.

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