As inundações no Rio Grande do Sul resultaram em uma das consequências mais graves: a morte de animais. Na pecuária de corte, quase 15 mil bovinos perderam a vida devido às cheias, conforme dados da Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS). No entanto, além da perda de animais, a destruição das pastagens emerge como uma das principais preocupações dos pecuaristas.

Jaime Eduardo Ries, zootecnista e assistente técnico estadual em bovinos da Emater-RS, relata que a perda de bovinos de corte foi especialmente significativa nas regiões do vale do rio Taquari e ao longo do rio Jacuí. Agora, com a redução do nível das águas, praticamente todo o rebanho do Estado, que conta com cerca de 12 milhões de cabeças segundo dados do IBGE de 2022, enfrenta a escassez de pastagens disponíveis.

Mais de 32 mil produtores foram afetados pelas enchentes, conforme a Emater-RS. Dos 613 mil hectares de campo nativo no Rio Grande do Sul, 430 mil (70%) sofreram algum nível de perda, sendo que em 45% dessa área houve destruição da vegetação. Nas pastagens cultivadas, cerca de 250 mil hectares foram impactados, de um total de 436 mil hectares, com prejuízos confirmados em 48% dessas áreas. Além disso, 7,5 mil hectares plantados com silagem, de um total de 32 mil hectares, foram alagados, e 67% das lavouras inundadas foram destruídas. Essas perdas comprometem a capacidade de sustentação dos rebanhos, o que terá consequências negativas para a economia local e a oferta de produtos de origem animal. “Em muitas áreas, estamos trabalhando para distribuir alimentos para evitar a morte dos animais”, destaca Ries.

Com a deterioração das condições físicas dos rebanhos devido às restrições, o mercado de animais também tem sido afetado. Embora o preço do boi gordo esteja estável em algumas regiões devido à entressafra, a cotação do gado de reposição tem oscilado consideravelmente, segundo a Emater-RS. Além disso, as inundações prejudicaram as transações nas feiras, com os preços cerca de 30% abaixo da média, conforme Marcelo Silva, leiloeiro e diretor da Trajano Silva Remates. Ele prevê que a recuperação será gradual. “Sem dúvida, isso deixará uma cicatriz profunda”, lamenta.

O atraso na engorda de inverno do gado já preocupa os frigoríficos. Ladislau Böes, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), alerta para uma grande escassez nesse período. O estado conta com 280 frigoríficos em operação, a maioria de pequeno e médio porte, sendo dois deles diretamente afetados pelas enchentes: o Frigorífico Boi Gaúcho, em Venâncio Aires, com prejuízos estimados em R$ 40 milhões pelo proprietário Neri Nascimento, e o frigorífico Frigosul, da Sulbeef, em Vila Maria, com perdas de R$ 6 milhões.

Os curtumes também estão enfrentando os efeitos das enchentes, com pelo menos quatro unidades alagadas. Moacir Berger de Souza, presidente executivo da Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul (AICSul), relata que muitas empresas operaram com apenas 30% a 40% da capacidade em maio devido à ausência de colaboradores afetados pela situação.