Os papéis futuros de trigo começam a quarta-feira em alta, depois que chineses cancelaram grandes compras dos EUA, aparentemente numa tentativa de garantir melhores preços e reforçar a segurança alimentar do país. Os contratos mais negociados, para maio, estão sendo negociados a US$ 5,50 por bushel em Chicago, ligeiramente acima do mínimo de três anos e meio atingido em meados de março, mas caindo cerca de 10% em relação ao início do ano

Segundo a agência japonesa Nikkei, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos informou que 504 mil toneladas de trigo americano que haviam sido vendidos à China foram canceladas pelos compradores. O número equivale a metade do total de remessas de trigo dos Estados Unidos para a China em 2022 e o maior cancelamento já registado desde 1999.

Cerca de 1 milhão de toneladas de exportações de trigo australiano para a China também foram canceladas ou adiadas, relata a agência de notícias Reuters.

Embora a China enfrente uma desaceleração econômica, os preços dos alimentos geralmente sofrem menos com as flutuações do que o preço do petróleo bruto, do cobre e de outros materiais industriais.

“Os compradores provavelmente estão tentando evitar contratos caros assinados no passado e estão recomprando a preços mais baixos”, disse Ruan Wei, do Instituto de Pesquisa Norinchukin do Japão à Nikkei.

Ele também afirma que a Rússia tem cereal para fornecer mais barato para a China caso os compradores decidam mudar o fornecedor.

Soja e milho

A soja e milho operam com altas moderadas na bolsa americana. Os contratos da oleaginosa com vencimento em maio sobem 0,45%, para US$ 11,79 o bushel. Os de milho de mesmo vencimento têm alta de 0,55%, a SU$ 4,34 o bushel.

Amanhã, o Departamento de Agricultura americano (USDA) divulgará novas estimativas sobre oferta e demanda de grãos. O foco recairá sobre as projeções de safra para Argentina e Brasil. Analistas apostam que a colheita no país vizinho deve ser indicada em 50,2 milhões de toneladas de soja, ou 200 mil toneladas a mais que o previsto pelo USDA em seu relatório de março.

“Existe muita expectativa com o aumento na safra da Argentina, já que as condições de clima por lá foram muito boas na última semana”, observa Vlamir Brandalizze, consultor de mercado.

Para a safra de soja brasileira, a aposta dos analistas é para um volume de 151,7 milhões de toneladas, versus 155 milhões estimadas no mês passado. Ainda que seja um corte significativo, Brandalizze diz que o número não muda a tendência de baixa para os preços. Isso só deve acontecer caso o USDA indique uma safra abaixo de 150 milhões de toneladas.

Outro elemento que reforça o momento de desvalorização da soja é a fraca demanda pelo grão americano, segundo Brandalizze. “A China não está comprando [soja] dos EUA, enquanto os embarques do Brasil estão aquecidos desde o início do ano. Temos um cenário atual em que não há nenhum elemento positivo para os preços”.

Sobre o milho, os produtores americanos semearam 3% da área prevista até o último domingo, segundo informou o Departamento de Agricultura do país (USDA). Esse é o mesmo índice observado em igual período do ano passado, mas está acima da média para os últimos cinco anos, de 2%.

Para Vlamir Brandalizze, o ritmo da semeadura chama a atenção, já que até a última semana, o Estado de Illinois, que estava coberto por neve, agora já conta com 2% da área plantada. Por fim, ele lembra que a desvalorização do trigo também beneficiou a queda do milho em Chicago.

Fonte: Globo Rural