Para quem atua na Ucrânia, passados períodos mais tensos, a reflexão que fica é que houve uma precificação do risco de guerra. “Agora já se conhece a situação, o pior é quando se lida com o imprevisto e o imprevisível”, afirma Filipe Gonzaga, sócio da Bryce S.A., que atua com a comercialização de grãos pelos portos da Ucrânia.

A empresa enfrentou os gargalos logísticos, nas rotas de caminhões, barcos e trens, a disparada nos custos dos fretes e as constantes incertezas, agravadas por ataques da Rússia aos portos ucranianos em 2023 e sucessivas restrições ao comércio local.

“O maior aprendizado é sobre como fazer uma execução rápida para mitigar risco. No mercado brasileiro atualmente é possível tratar de negócios para outubro, novembro ou dezembro, para frente. Aqui, eu consigo pensar em operações para a segunda metade de março”, diz Gonzaga. Ainda há imprevisibilidade nos negócios a longo prazo. “Não se sabe o que vai acontecer em termos de volatilidade, aumento de frete, de seguro, se vai ter fechamento de porto ou bombardeios”, completa.

Atualmente, o corredor paralelo criado pelo exército ucraniano melhorou o fluxo local e acabou com as filas gigantescas, de até um mês de espera, para inspeção dos navios no estreito de Bósforo. “Ficou muito mais dinâmico e permitiu a entrada de barcos menores em portos profundos”, afirma. Com mais confiança no mercado, a empresa começou a comprar grãos internamente para estocar, mas o transporte na Ucrânia segue afetado por problemas logísticos.

Segundo Gonzaga, agora o mercado já entende a situação da guerra. “O ecossistema está propício para o escoamento de grãos, tanto que os estoques finais da Ucrânia serão baixos neste ano”.

A Bryce deve embarcar, só neste mês, 63 mil toneladas de grãos, sobretudo milho e trigo, dos portos de Izmail, Kiliya e Odessa na Ucrânia. “Eu estava um pouco cético em relação a utilizar os portos profundos, justamente por ser uma afronta à Rússia. Fiquei com medo de ataques, mas fizemos carregamentos em 2023 e outros neste ano”.

O custo operacional é mais barato nos portos profundos, como Odessa e Chernomorsk, que dão acesso ao mar, mas o seguro é mais caro, afirma o trader.