O incidente diplomático causado pela declaração do presidente Luis Inácio Lula da Silva, ao comparar a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, na Palestina, ao Holocausto — que matou milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945) — acendeu um alerta entre exportadores brasileiros.
Importância de Israel nas exportações
Embora o mercado israelense represente uma pequena parte das vendas externas do Brasil, o agro tem uma participação relevante no comércio bilateral.
Dados da plataforma ComexStat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), mostram que o Brasil exportou US$ 662 milhões em produtos para Israel em 2023. Veja os principais:
- Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, US$ 139 milhões;
- Carne bovina, US$ 127 milhões;
- Soja, US$ 121 milhões;
- Farelo de soja, US$ 63 milhões;
- Milho, US$ 38 milhões.
“São três navios de milho e três de soja no ano inteiro. Em termos de volume, é pouco, mas qualquer mal-entendido que afete a área comercial traz preocupação”, afirma uma fonte com trânsito entre grandes exportadores de grãos. Por isso, a avaliação é que, por ora, a interdependência dos países deve falar mais alto.
O principal medo é da posição do governo brasileiro provocar uma escalada no conflito e incomodar nações aliadas de Israel, como os Estados Unidos, que se tornaram o segundo maior importador de carne bovina brasileira no ano passado.
O presidente da Câmara Brasil-Israel (BRIL Chamber), Renato Ochman, afirma que a organização está atuando para manter as relações bilaterais e afastar as questões políticas. Mas “a repercussão da declaração do presidente pode afetar a importação de tecnologia de Israel, em setores prioritários, como medicina, segurança e proteção de inteligência”, avalia.
O Brasil importou US$ 1,35 bilhão em produtos israelenses, sendo os dois principais itens insumos importantes para o agronegócio brasileiro: fertilizantes químicos (US$ 608 milhões) e defensivos agrícolas (US$ 144 milhões).
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, diz que o incidente deve ter baixo impacto sobre as relações bilaterais no curto prazo. A atenção maior é no médio prazo, já que as exportações são mantidas com licenças e certificados concedidos pelo governo de Israel.
“Embora isso acabe esfriando as relações diplomáticas, Brasil e Israel têm certa estabilidade por conta do acordo do Mercosul. Inclusive, Israel tem superavit [exporta mais do que importa] com o Brasil e não vai querer perder isso”, avalia Barral, em entrevista à Globo Rural.
A reportagem apurou que não houve consultas do setor privado a Brasília sobre o assunto. O cenário serve de termômetro para os técnicos do governo avaliarem, por enquanto, que o episódio não deve causar rupturas nas relações comerciais.
A análise é que as boas relações diplomáticas são fundamentais para a abertura de novos mercados. Nesse caso, a intervenção de Lula poderia travar novas negociações. Para os produtos cujo mercado já está aberto e consolidado, as relações comerciais se sobrepõem à diplomacia, diz uma fonte no governo.