As lavouras de cana-de-açúcar do Brasil já utilizam mais nematicidas de origem biológica do que químicos. Em 2023, os nematicidas biológicos representaram 64% das vendas de todos os defensivos contra nematoides para cana e movimentaram o segundo maior valor em vendas do segmento em cinco anos, de acordo com o levantamento FarmTrack, da consultoria Kynetec Brasil.

O controle de nematoides – tipo de verme que costuma atacar as raízes das plantas – é algo recente na agricultura brasileira, e vem crescendo justamente pela adoção de produtos biológicos. Em cinco anos, as vendas de nematicidas (químicos e biológicos) para a cultura da cana cresceram 47%, para R$ 403 milhões no ano passado.

Apesar do manejo dos nematoides não ser considerado essencial, como de outras pragas, seu controle pode ajudar a recuperar produtividade. “Demorou bastante tempo para a conscientização da presença do problema, a identificação e a decisão de investimento, ou [conscientização] do prejuízo se não se fizer nada”, avalia Lucas Montrasio, analista de inteligência de mercado da Kynetec.

Essa trajetória de crescimento do uso de nematicidas na cana foi garantida apenas pelos produtos biológicos, cujas vendas aumentaram mais de quatro vezes e alcançaram R$ 257 milhões, enquanto as vendas dos nematicidas químicos caíram 32,7%, para R$ 145,1 milhões.

A cultura da cana é o segundo principal mercado de nematicidas do país, atrás apenas da soja, que ocupa uma área oito vezes maior que a cana. Proporcionalmente, porém, o uso de nematicidas nas lavouras de cana é maior, segundo o analista da Kynetec.

Em 2023, 68% das lavouras de canas recém-plantadas (de primeiro corte, ou “cana-planta”) receberam aplicação de nematicida, enquanto em 2019 essa adoção ainda era de 42%. As áreas de cana-planta representam hoje em torno de 15% das plantações de cana do país.

O levantamento considera a taxa de adoção apenas nas áreas de primeiro corte de cana, quando o controle dos nematoides é mais efetivo. Segundo Montrasio, também ocorrem aplicações de nematicidas com pés de cana com mais de um corte, mas a prática diminui conforme a idade da planta. As aplicações em canas com mais de um corte (“cana-soca”) ocorrem em torno de 5% dessas lavouras no país, diz.

Crescimento do mercado

A ampliação do uso de insumos biológicos na cana responde à regulação que limita o uso de defensivos químicos, explica Lucas Lima Alves, gerente da Kynetec. Mas ele também credita a adesão dos canavieiros aos produtos biológicos ao perfil desse agricultor, o qual, segundo Alves, é mais tecnificado e com maior capacidade de investimento do que o produtor médio de soja.

De acordo com Alves, os nematicidas biológicos hoje já são tão competitivos quanto os produtos químicos, dada a entrada de diversos fabricantes novos pulverizando o mercado, além do crescimento dos lançamentos de produtos biológicos.

“Dez anos atrás, tinha três ou quatro soluções que atendiam todo o mercado de nematicidas, de origem química. Hoje tem pelo menos 30 a 40 produtos distintos, de 15 a 20 empresas distintas, trabalhando esse segmento”, afirma Alves.

Fonte: Globo Rural