A indústria brasileira de suco de laranja, responsável por mais de 85% do comércio global da commodity, encerrou a safra 2023/24 (finalizada em abril) com a maior receita de exportações de sua história. Foram US$ 2,5 bilhões em vendas de suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ) ao exterior, representando um aumento de 21,3% em relação às vendas de 2022/23, devido aos altos preços do suco no mercado internacional. Considerando os subprodutos, as exportações totalizaram US$ 3 bilhões.
Apesar do recorde, o setor está preocupado devido à queda contínua na demanda internacional por suco. Embora a receita tenha crescido, o volume exportado caiu 9,3% no ciclo 2023/24, para 961,3 mil toneladas, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior, compilados pela CitrusBR.
As perspectivas não são otimistas para a indústria. Se os preços internacionais permanecerem nos níveis atuais, a demanda tende a se retrair ainda mais. Ontem, os contratos mais negociados de FCOJ fecharam a US$ 4,3945 por libra-peso, uma alta de 40,60% desde o início do ano.
De acordo com os dados mais recentes da consultoria Nielsen, o consumo de suco de laranja nos EUA está em 89,9 milhões de litros por mês, quase metade dos 154,8 milhões de litros registrados durante a pandemia de covid-19, quando os consumidores buscavam bebidas saudáveis e fontes de vitamina C. Em comparação com o mesmo período de 2023, há uma queda de 21%.
“Os números dos EUA são preocupantes. Trata-se do menor patamar de uma série histórica de 24 anos”, disse Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBr, que representa as maiores indústrias de suco de laranja do mundo: Cutrale, Louis Dreyfus Company e Citrosuco. Na safra 2023/24, as indústrias brasileiras venderam 315,7 mil toneladas para os EUA, uma redução de 6,07% em relação ao ciclo anterior.
Na Europa, as vendas do produto brasileiro também caíram, com uma redução de 11,8%, para 504,3 mil toneladas em 2023/24. Segundo um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o consumo da bebida nesse mercado recuou 0,23% na safra 2023/24 em comparação à temporada anterior.
Os embarques de suco brasileiro para o Japão diminuíram 16%, totalizando 27,7 mil toneladas. Apenas as vendas para a China se mantiveram estáveis na safra 2023/24, em 81,8 mil toneladas.
“O mercado de suco é elástico porque a bebida pode ser facilmente substituída por outra. Com o aumento dos preços e menor oferta, a migração ocorre mais intensamente”, afirmou o executivo. “Vivemos um período em que a oferta de suco está abaixo da demanda. Portanto, não adianta agora incentivar o consumo”, acrescentou.
A oferta limitada é resultado da menor disponibilidade de laranja. Na safra 2023/24, a produção em São Paulo e no Triângulo Mineiro — maior área citrícola do mundo — somou 307,2 milhões de caixas de 40,8 quilos, uma queda de 2,2% em relação ao ciclo anterior e a quinta queda consecutiva. O clima seco é o principal fator para a redução na oferta, juntamente com a maior incidência do greening, uma doença sem cura que afetou 38,06% dos pomares na temporada, segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
Um relatório da International Fruit and Vegetable Juice Association (IFU) reforça a perspectiva negativa. Segundo a entidade, o mercado internacional tem utilizado o suco de laranja como ingrediente em sucos multivitaminas, e não como produto final. No Brasil, marcas como a Natural One passaram a adicionar maçã nas bebidas que antes eram exclusivamente de laranja.